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Um tal de gerundismo

  • Foto do escritor: Carmen Adriana
    Carmen Adriana
  • 22 de fev. de 2024
  • 2 min de leitura

Atualizado: 7 de mar. de 2024


Chego ao balcão e peço um pastel de maçã. A atendente responde: “Hoje não vamos estar tendo o pastel...” A fala é estranha, se não terão o pastel no futuro, neste momento eles têm e não desejam vender? Ou não têm o produto agora? A tentativa de ser educada incorre no vício chamado gerundismo.

O assunto não é novo, mas é assustador e faz mal aos ouvidos receber respostas como: “Vamos estar encaminhando”, “Vamos estar transferindo a ligação...” e outros horrores da língua portuguesa presentes, principalmente, no atendimento comercial. O vício parece ter se infiltrado em manuais técnicos elaborados, a partir da língua inglesa, por pessoas sem conhecimento consistente da nossa gramática e soa aos nossos ouvidos como uma desculpa, uma negativa. Normalmente, quando essa é a resposta, sabemos que nos aguardam minutos infindáveis na espera da transferência da ligação e semanas até qualquer encaminhamento do problema apresentado.

O pobre do atendente acredita estar sendo gentil (aqui o gerúndio está correto, pois indica ação em curso) e elabora uma frase que não faz sentido. Mas por que o uso é inadequado? Vejamos, por definição "Gerúndio é uma das formas nominais do verbo que apresenta o processo verbal em curso e que desempenha a função de adjetivo ou advérbio", assim, para uma ação que se dá com início e fim no presente ou no futuro, não cabe o uso da forma nominal. “Hoje não temos pastel de maçã’. “Amanhã encaminharemos o pedido”. São ações completas, ações que ocorrem de fato, não são ações em processo de longa duração, a atendente não ficará por horas transferindo sua ligação, é ato de poucos segundos.

O gerundismo é um vício construído pelo excesso, sem nenhuma necessidade transformamos um verbo conjugado em gerúndio, quando o correto é mais fácil e elegante – “Vou transferir sua ligação”, “Vou pesquisar o assunto”, entre tantos exemplos.

O gerúndio é correto, quando aplicado em orações como: “O menino está empinando pipa”  ou “A menina está escrevendo um livro” – veja que, nos dois exemplos, temos atos em curso, sem previsão definida de  término.

Há gramáticos que aceitam construções como “Segunda-feira, vou estar elaborando o orçamento” -  justificando ser um processo com certa duração que ocorrerá em tempo futuro, mas sejamos elegantes: “Segunda-feira estarei elaborando o orçamento”.  Observe como a comunicação se dá de forma mais clara e direta e você até acredita que receberá o serviço pontualmente.

Valorize a coesão, a característica do texto que cumpre sua função, que informa, que tem textualidade (assunto para  outro post), evitar o gerundismo colabora para essa construção. Não precisamos copiar estrangeirismos inadequados à nossa fala.

 

Carmen Adriana dos Santos Rosa

 
 

Escritoria - Soluções em Linguagens

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