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Sexismo e etarismo: nada de novo no mundo da bola

  • Foto do escritor: Maria Célia Ribeiro
    Maria Célia Ribeiro
  • 17 de jun. de 2024
  • 3 min de leitura

Sou palmeirense. Os que me leem há mais tempo, já sabem, porque falei disso em outro momento. Gosto e acompanho esportes: futebol, vôlei, natação, ginástica olímpica, patinação artística... Só não acompanho as lutas. Não é por nada, sem preconceito, mas não entendo. Difícil gostar do que não se entende. Alguns, quando trato disso, olham para mim como se eu fosse um ser de outro planeta. “Você gosta de futebol? Entende de futebol? De esporte? Isso é coisa de homem!” Sim, eu gosto, eu acompanho, eu entendo (pelo menos, um pouquinho). Não jogo. Não por ser “coisa de homem”, mas por não ter nenhum talento esportivo. Meu negócio é com as palavras mesmo.

Como palmeirense, sempre gostei do jogador Dudu. É verdade que houve um tempo em que andei meio aborrecida com uma história de agressão à mulher, alguns devem se lembrar. Mas também é certo que uma coisa não tem a ver com a outra. Em campo, ele é bom. Inegável.

Desde sua contusão, estive torcendo para que a recuperação se desse da melhor forma e para que voltasse logo a campo, brindando-nos com suas belas jogadas. Minha atitude não seria diferente, caso ele jogasse por outro time, contudo, claro que contou muito, nessa minha torcida, a importância que o jogador sempre teve para o clube desde sua chegada.

Recentemente, entretanto, fui surpreendida pela notícia, dada pelo Cruzeiro, de que Dudu estaria fechando com essa equipe. O quê?! O Dudu vai embora?! Não entendi de início. Todos estávamos esperando sua volta. Achei que ele também estivesse...

Com o tempo, as informações foram chegando. Ao que parece, o staff do próprio jogador procurou o Cruzeiro para um acordo. Se entendi bem, ele não estava satisfeito com o período de afastamento. Ué! Não estava machucado? Parece que não foi bem assim.

Tanto quanto se sabe, alguns torcedores da organizada foram conversar com Dudu no final de semana e conseguiram convencê-lo a ficar no time. O atleta, então, informou – sem, no entanto, dar as caras –, que ficaria.

Tudo resolvido, certo? Não, claro! A presidente do clube, Leila Pereira, veio a público e, em uma entrevista, disse, com todas as letras, que espera ver o jogador cumprir o que prometeu à equipe mineira.

Em comentários ao final de uma reportagem sobre o assunto, li que estaria na hora de a “TIA” (assim mesmo, com letras garrafais) fazer outra coisa. As palavras têm significado e, em determinados contextos, muito pejorativo.

“Tia”? Por quê? Alguém já viu quem quer que seja criticar um presidente de clube, sendo homem, chamando-o de “tio”? Não. Mesmo que não gostem do trabalho do homem, ele nunca é ridicularizado por sua idade. Mas, sendo mulher, a história é outra.

Destaque-se, ainda, que Leila foi extremamente elegante com um jogador que demonstrou desinteresse pelo Palmeiras. Ela deixou claro que se trata de um atleta muito importante para o clube, que ficará em sua história para sempre e terá uma bela despedida. Isso é equilibrado, elegante e profissional.

Interessante notar que, em geral, referem-se às mulheres atribuindo-lhes características bem diferentes dessas. Dizem que somos desequilibradas, muito emocionais, pouco profissionais. E, quando uma mulher age como sempre disseram que era o certo, ela é chamada de “TIA”. Notam do que se trata?

Sim, puros etarismo e sexismo. Tudo junto e misturado, que é como costumam andar esses dois “ismos”. Se é mulher, tem que ser vista como incompetente e despreparada. Se tiver entrado na casa dos “enta”, então, além disso, é ultrapassada. Velha mesmo. Por isso, na visão desses que assim pensam, merece ser chamada de tia.

Agora, gostaria que essas pessoas me respondessem com sinceridade (se é que sabem o que é isso): se você dirigisse uma empresa, um clube, uma loja e tivesse um funcionário que se mostrasse insatisfeito em trabalhar com você, deixaria que ele ficasse? Principalmente depois que ele diz que vai embora, assume um compromisso com outra empresa e depois recua? É possível confiar nesse profissional?

Observe-se, ainda, que, embora eu discorde dela em alguns aspectos, não podemos negar que tem feito um ótimo trabalho. Ou alguém acha que o time estaria “voando” se a presidência fosse ruim? Atribui-se tudo ao técnico. Ele é excelente, sim. Não nego, mas não é só o trabalho dele. Sem respaldo do clube, não daria certo. Pelo menos, não tão certo. Mas não vejo nem leio elogios a ela. Nem na grande imprensa, diga-se de passagem. Se fosse homem? Não receberia elogios?

Pois é... Imaginem  se esse imbróglio todo com o Dudu acontecesse com uma jogadora. A Marta, por exemplo, que é mais velha. Do lado de quem esses mesmos ficariam? Diriam que ela deveria se aposentar, que a tia já não sabe o que está fazendo... E provavelmente aplaudiriam a postura correta do presidente do clube.

O pior é que eu errei no título. Não é só no mundo da bola. É assim no mundo todo. Que triste.

 
 

Escritoria - Soluções em Linguagens

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