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Racismo linguístico – da escolha das palavras

  • Foto do escritor: Carmen Adriana
    Carmen Adriana
  • 3 de jul. de 2024
  • 2 min de leitura

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Cena 1 – Aeroporto Internacional de GRU, de um lado do vidro, uma menina loirinha, do outro lado, minha sobrinha negra voltando para o Brasil. As duas começam uma brincadeira engraçada de unir as mãozinhas separadas pelo vidro.

Cena 2 – minha netinha, loira de olhos azuis, embala uma boneca negra, enche de carinhos e beijos e a deposita sorridente nos braços de minha amiga negra.

As cenas confirmam a fala de Nelson Mandela: Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele ou por sua origem, ou sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender.” Daí vêm as perguntas: O que estamos ensinando para nossas crianças a começar pela linguagem? Será que nossa postura discrimina falares, pelo sotaque, pelos acentos, pelas escolhas vocabulares? Será que estamos ensinando respeito pelas diferenças ou replicando comportamentos jocosos, agressivos?

Todos os dias observamos o racismo linguístico, a linguagem que perpetua o apagamento do outro, ignorando seu vocabulário e valores e, ao mesmo tempo, reforçando termos de acepção negativa sobre determinado povo e cultura. Há quem considere, por exemplo, exagero evitar termos como japa, denegrir ou criado-mudo, mas qual o lugar de fala dessas pessoas? Já sofreram algum tipo de preconceito? Colocar-se no lugar do outro é o primeiro passo para combater esse mal.

A escola deveria atentar-se ao ensino da Língua Portuguesa observando esse cuidado, se há o explícito, há o implícito. Os educandos podem começar a perceber que há palavras mais adequadas, afetivas, delicadas. Que há construções que expressam cordialidade e respeito. É urgente abandonarmos a cultura da lacração que faz do diálogo um ringue, onde uma torcida ensandecida espera pelo nocaute do adversário, de sua reputação, da sua autoestima.

A regulamentação das redes sociais traria um excelente avanço nessa área. Não podemos persistir em uma terra sem lei, como a nomeiam alguns. As palavras têm peso, têm intencionalidades. Quem influencia precisa ser responsabilizado pelos seus ditos, sobretudo quando direcionarão comportamentos de toda a sociedade, pois chegam indistintamente a adultos e crianças.

Voltemos à fala de Mandela:” ... se podem aprender a odiar, podem aprender a amar, pois o amor chega mais naturalmente ao coração”. Incentivemos nossas crianças a amar, a cultivar palavras acolhedoras e educadas, a respeitar a beleza da diversidade.  A encontrar o outro e saber que ele sempre será o próximo, o igual.  Vamos reavaliar nossa linguagem.

 
 

Escritoria - Soluções em Linguagens

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