Mulher e negra
- carminadri
- 25 de jul. de 2024
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Hoje, 25 de julho é o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. No Brasil, é também o Dia Nacional de Tereza de Benguela, líder quilombola que ajudou comunidades negras e indígenas na resistência à escravidão. Há sempre quem questione por que um dia para lembrar, celebrar e reivindicar índices mais positivos em relação à vida das mulheres negras? Penso que esta pergunta nasça da falta de sensibilidade ou da falta de um olhar engajado com a realidade. Falo do meu lugar de mulher branca, mãe, avó, esposa, cristã, professora. Falo de um lugar que, por mais que tenha me levado a enfrentar algumas dificuldades, é lugar de privilégio. Falo em sororidade a amigas irmãs queridas, as quais tantas vezes ouvi em doloridas conversas sobre suas lutas.
Hoje é um dia de celebração e luta. Celebrar as poucas conquistas, mas a garra e força de mulheres como Tereza de Benguela, Maria Carolina de Jesus, Marina Silva, Antonieta de Barros, Fátima Santiago, Benedita da Silva, entre outras. A maioria saída de lugares humildes, com histórias inspiradoras de superação e luta pela igualdade racial e de gênero. Mulheres que fazem e fizeram diferença em seu tempo e representam tantas outras anônimas que, diariamente, posicionam-se para que elas próprias e seus filhos e netos consigam estudar, valorizar suas origens e ultrapassar barreiras socialmente impostas.
É dia de lutar, e as reivindicações são muitas. Em um rápido panorama, temos que as mulheres negras representam 28,5% da população brasileira, representam 28,4% da população ativa, chefiam a maioria de suas famílias e, no entanto, representam apenas 16% do rendimento do país (PNUD). Quanto ao ensino, 35% da população negra figura sem nenhum ensino ou sem ter completado o ensino fundamental. Serão necessárias mais de três décadas para corrigir essa desigualdade. Fica a pergunta: o que se tem investido para isso?
Falamos das lutas no coletivo, mas raramente discutimos com profundidade sobre as dores individuais, os pequenos preconceitos sofridos e vividos diariamente e calados duplamente, na boca e no coração. Lembro-me da amiga, linda, maravilhosa, comemorando o aniversário de casamento, ao entrar no elevador do hotel, ouviu o comentário malicioso e jocoso de um outro casal, em inglês, porque julgaram que ela não entenderia. O marido branco, ela negra, chamaram-lhe de garota de programa. Engoliu em seco para não magoar o companheiro em um dia tão especial. Esta história doeu muito em mim, conhecendo sua luta, sua trajetória, sua alma generosa.
Minha amiga doutora, superelegante, apresentada a uma idosa, foi perguntada por essa se fazia limpeza como diarista. Perdoada a senilidade, entendemos aqui o racismo estrutural, o menor traço de negritude implica posição de subserviência. Cresci em uma família que tinha história com escravos. Minha avó contava da tia que usava de crueldade com os negros que habitavam em sua fazenda e tinha brigas terríveis, graças a Deus, com um tio que sempre fora abolicionista, tendo doado sua propriedade aos negros, surgindo um bairro chamado Bairro dos Negros, na região onde viveram no interior de São Paulo.
Assim, ouvi sempre “Ele é preto, mas é educado”, “Ele é preto, mas é trabalhador”. Como me libertei disso? Convertida ao evangelho, participei durante minha adolescência e juventude de uma igreja de maioria negra, minha avó materna foi uma das fundadoras dessa igreja batista. Ali não havia cor, havia irmãos em Cristo, a maior beleza do verdadeiro Evangelho, não há outro, somos todos iguais em paternidade e destino, o único outro é Deus.
Assim, nesse dia, uno-me a minhas amigas negras queridas, em sororidade e força, na luta por um mundo em que todos tenhamos as mesmas oportunidades e a mesma acolhida, quando a vida nos der as boas-vindas.